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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Eu e meu benfeitor

Sê um benfeitor de ti mesmo, limpando a tua mente do ódio, que maltrata a paz, limpando a tristeza, que envenena o teu mundo por dentro, limpando a violência, que altera a benevolência.
Miramez

É comum pensarmos em termos de religião que todos os nossos sofrimentos surgem como castigos divinos por atos que cometemos contra as leis de Deus. Este pensamento é tão profundo em nós que, quando não conseguimos mapear o que fizemos de errado para merecer a dor sob os mais variados matizes, começamos a buscar as causas nas vidas ”inadequadas” de nossos antepassados ou atribuímos o castigo recebido a erros cometidos por nós mesmos em vidas passadas.

Pessoalmente, quando olho para os postulados da doutrina espírita codificada por Allan Kardec, em específico para a terceira parte da obra intitula O Livro dos Espíritos, que trata das leis divinas ou naturais, acredito que seja possível fazer esta leitura do castigo. Os espíritos e o próprio Allan Kardec utilizam o termo castigo em diversos momentos, mas será que temos o entendimento correto do que seria castigo?

Pensemos um pouco em termos do processo de constituição de um grupamento social, que precisa eleger padrões comportamentais mínimos aceitáveis com vistas a manter a coesão do grupo e a boa convivência.

Cada sujeito em um círculo de convivência abre mão de parte de sua liberdade de ação para possibilitar a convivência com outros indivíduos em favor de um objetivo comum, estabelecem-se códigos de conduta que ditam os limites de ação de cada integrante do grupamento a fim de criar um ambiente de convivência favorável.

Os objetivos do grupamento podem ser os mais diversos, seja o estabelecimento de uma comunidade pacífica, a expansão dos territórios de um Estado, o desenvolvimento de pesquisas científicas, a harmonia familiar, entre tantos outros móveis possíveis; mas as consequências são as mesmas. Tradições, códigos de conduta e leis surgem destes pactos conjuntos.

Inicia-se então um grande desafio, que é constante, uma vez que o grupo está sempre se renovando através do nascimento de crianças e da chegada de novos membros vindos de outros grupos; é necessário treinar as pessoas a comportarem-se de acordo com o conjunto de regras socialmente aceitas naquele grupamento. Neste contexto surge o castigo.

O castigo é uma ferramenta educativa para possibilitar que um indivíduo perceba que sua conduta não está adequada às normas vigentes. Está, de alguma forma, associado ao “delito” cometido em relação aos códigos de conduta aceitos e durará o tempo necessário para que o indivíduo repense a sua forma de proceder no grupo.

Quando lembro que estamos todos submetidos às leis divinas, ou seja, à vontade de Deus, e que temos que aprender a viver com amor, conforme proposto por Jesus ao resumir toda a lei e os profetas, consigo entender castigo como oportunidades que recebemos de Deus para repensarmos a nossa forma de agir na criação.

A lei de causa e efeito perde o caráter punitivo e assume um caráter educativo. As dores e sofrimentos oriundos de erros cometidos no passado passam a ser formas de conduzir meu pensamento, sentimento e ação na direção dos objetivos de plenitude espiritual.

Como dito anteriormente por Jesus e reiterado por vários espíritos em O Livro dos Espíritos e em O Evangelho Segundo o Espiritismo, a criação é harmoniosa e nos destina à felicidade e ao amor plenos.

Sendo assim, todas as formas de sentir, pensar e proceder que não estejam de acordo com a harmonia e amor são formas que precisam ser transformadas em algum momento, ou seja, levarão o indivíduo a situações de castigo para que possa repensar sua conduta.

Quando Miramez nos convida a limpar a mente do ódio, da tristeza e da violência, todas formas não amorosas e oriundas de nossa visão imperfeita da vida, está nos dizendo, que os nossos sofrimentos podem ser eliminados no memento em que dermos abertura a novas forma de pensamento, conduta e ação, quais sejam, a paz, a percepção de Deus em nós e a benevolência para com o próximo e para com nós mesmos, que estão de acordo com a destinação espiritual de todos nós.

Agirmos como benfeitores de nós mesmos é, portanto, percebermos que estamos inseridos em um ambiente de crescimento e temos uma meta a ser atingida. É identificarmos que nosso estado de saúde, no sentido espiritual da palavra, depende principalmente de nós mesmos e nos esforçarmos para mudar.

Cabe a cada um de nós transformamos os valores que precisam ser transformados para sermos felizes.

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Eu e meu benfeitor de C. Guilherme Fraenkel é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Compartilhamento pela mesma licença 3.0 Unported.
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Este artigo faz parte de um conjunto de reflexões diárias que iniciou-se em 05/01/2011 a partir de um presente que ganhei em 2010, uma caixinha cheia de citações (veja o artigo "O importante não é a etiqueta" para mais detalhes)

Você poderá acompanhar todas as citações e reflexões publicadas no WebEspiritismo usando o Marcador “Reflexão diária”. A lista de Marcadores usados está disponível na coluna lateral do blog sob o título “Marcadores”

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