Hoje decidi que abriria o Evangelho Segundo o Espiritismo ao acaso, leria uma passagem e depois meditaria sobre ela. A leitura foi “A parábola dos talentos”, uma lição muito bela trazida pelo Cristo e que nos oferece diversas lições de grandiosa importância.
Na parábola dois dos servos, os que recebem as maiores somas, mostram-se preocupados em fazer com que aqueles talentos dêem frutos a fim de que o senhor, ao retornar, possa estar satisfeito com os resultados. O outro servo, o que recebeu menos talentos, temendo a ira do senhor decide enterrar a pequena quantia que recebeu a fim de garantir que nada se perca.
Quando o senhor retorna e pede o ressarcimento dos valores colocados sob a guarda de seus servos, a surpresa. Os dois primeiros servos restituem a quantidade recebida e outro tanto, fruto de seus esforços e são recebidos com muita felicidade, enquanto o terceiro servo, que garantiu a restituição exata do valor a ele confiado é tratado de forma muito dura pelo senhor, que lhe retira os recursos e os entrega ao servo que havia recebido a maior quantidade.
Fiquei pensando, por que será que nenhum dos servos foi mal sucedido em retornar o dinheiro. Se dois deles decidiram investir o dinheiro recebido, não poderiam tê-lo perdido, pelo menos em parte? Que mensagem o Cristo propõe ao dizer que aqueles que receberam as maiores quantidades e que se arriscaram foram bem sucedidos?
Por outro lado, qual a mensagem deixada por Jesus quando propõe que o servo que enterrou os poucos talentos que havia recebido com o intuito de não correr riscos é uma criatura digna de ser punida?
Lembrei-me então do papel proposto pelo criador a cada uma de suas criaturas, a de integrar-se plenamente na obra e atuar continuamente na sua execução, ou seja, como nos propõe André Luiz através de Chico Xavier no livro Evolução em dois Mundos, todos nós, filhos de Deus, temos um papel de co-criadores, ou seja, não somos capazes de criar, mas somos capazes de transformar o mundo, de atuar nele incessantemente a fim de cumprir a vontade do pai.
Desta forma, é esperado de todos nós que, ao recebermos o dom da vida, o coloquemos em movimento, mesmo correndo riscos de não sermos eficientes. Este exercício sempre nos oferecerá um retorno positivo e deixará nosso senhor satisfeito. Talvez por essa razão, nenhum dos servos que tentaram multiplicar seus talentos foi mal sucedido em seus intentos ao passo que, aquele que não se empenhou tenha sido considerado o vilão da história, mesmo não tendo perdido o recurso recebido.
Mas ainda ficam dois pontos curiosos. Por que o senhor ofereceu quantidades diferentes de recursos para seus servos? Por que os que mais receberam foram os que melhores resultados apresentaram?
Fiquei pensando na questão do livre-arbítrio, ou seja, na liberdade que temos para conduzir as nossas escolhas, e na crescente liberdade de atuação na obra de Deus, proporcional à capacidade de usar o livre-arbítrio com sabedoria.
Deus identifica a capacidade de suas criaturas e lhes oferece tarefas cada vez mais desafiadoras à medida que se tornam mais capacitadas. Desta forma, reserva as tarefas mais complexas e as maiores quantidades de recursos àqueles que já conseguiram realizar as pequenas tarefas. Observo ainda, estabelecendo um correlação com o pensamento anterior, que estes companheiros, por serem mais capacitados, apresentam menores capacidades de falha, por já se encontrarem mais familiarizados com os propósitos de sua criação.
A parábola dos talentos é uma importante lição que nos oferece alegorias para percebermos a necessidade de nos esforçarmos para produzir algo com os dons que temos e, desta forma, eliminarmos o sofrimento de nossas vidas. Mas também nos ajuda a entender que Deus não oferece desafios maiores que a nossa capacidade de realização, evitando, desta forma, que nos comprometamos e soframos sem necessidade, ele respeita a nossa capacidade de realização e não oferece situações em que possamos causar prejuízo. Nos exercitamos nas pequenas situações a fim de nos desenvolvermos para sermos fiéis nas grande situações do futuro.
"Como usamos nossos talentos?" por Guilherme Fraenkel está licenciado sob a licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Compartilhamento pela mesma Licença 2.5 Brasil.
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