Aprendi que todo muro teve em sua vida um fio que o conduziu ao prumo. Imponentes, pequeninos, muros, muretas ou paredes; todos eles sólidas construções minerais que nasceram plantadas no rés do chão, pedaço a pedaço, guiadas para o céu em sua retidão característica. Barreiras sólidas que restringem espaços e acessos, que resguardam das intempéries da vida e que ofertam a seus construtores o abrigo necessário ao trabalho, ao descanso, à convivência em família; em uma palavra, ao progresso.
Passado algum tempo, desgastados pelas intempéries, os muros precisam de revisão. Ajustes na pintura, eliminação de infiltrações, acerto de pedaços que caíram ou refazimento do reboco que ficou frágil e não oferece mais a proteção estrutural característica e nem a beleza estética inicialmente projetada tornam-se ações corriqueiras.
Por vezes precisam sofrer reformas mais intensas. Deixam de atender às necessidades dos construtores que se transformam constantemente. Famílias que crescem, ofícios que mudam, mudanças climáticas, novas visões estéticas da humanidade; todos fatores que levam à necessidade de novas janelas e portas para o mundo exterior, à ampliações ou à reduções de comprimento e da altura, ao encerramento de acessos agora inconvenientes. Tudo leva à necessidade de transformar o muro erguido sob o fio de prumo e que agora precisa de novo rumo.
Em algum momento de suas histórias perdem completamente a utilidade e são agredidos em suas bases dando lugar a novos olhares e construções. Outras direções, novos materiais, novas mãos que desejam operar revoluções. Diante de multidões, tombam inertes, barulhentamente, pedaço a pedaço.
Outras vezes seus construtores, esquecidos do antigo fio de prumo que não lhes serve mais, seguem novo rumo abandonando seus muros aos ataques naturais do tempo. Eles, os muros, são lentamente reduzido ao pó, garantindo resquícios de antigas civilizações, ruínas relegas ao esquecimento...
Por isso acho que todos nós temos um pouco de muro em nossas constituições. A princípio fomos guiados por um fio que nos leva a um rumo. Pequeninos ou grandiosos em nossos afazeres, todos nós temos importante função no espaço onde nos constituímos. Rumando para o céu, plantados no chão, atendemos a uma visão.
Na medida do tempo que passa nos desgastamos pelo atrito natural com o ambiente onde nos posicionamos e os reparos tornam-se necessários até que o olhar espiritual demande novas necessidades. Com novos rumos definidos, continuamos a seguir para o céu, mas com novos arranjos e funções que podem demandar reformas agressivas ou o total abandono de facilidades que antes tiveram grande utilidade.
Pedaços de nossa história ficam guardados na memória enquanto nos servem de referencial comparativo para as novas conquistas até que em algum momento caiam no esquecimento diante das novas e complexas possibilidades da vida até então imprevisíveis. Sem função, as memórias reduzem-se ao pó de nossas origens, diluídas como matéria prima necessária e imperceptível ao olhar do construtor que progrediu. Partículas que não são mais vistas mas que um dia abrigaram revoluções.
Excelente Guilherme. Parabéns!
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