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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O Homem e os obstáculos para a reprodução

O Homem e os Obstáculos para a reprodução

Fui convidado pelo Grupo Rita de Cássia da Casa Espírita Cristã Maria de Nazaré, na Zona Sul do Rio de janeiro - RJ para realizar um estudo sobre os obstáculos impostos à reprodução, tema tratado na terceira parte de O livro dos espíritos de Allan Kardec.

Usando como referências bibliográficas iniciais:
  • O Livro dos Espíritos - perguntas 693 e 694
  • O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo III
  • O Evangelho Segundo o Espiritismo - capítulo XI - item 8
  • O Evangelho Segundo o Espiritismo - capítulo XVI - itens II e III
Tendo por referências complementares

Escrevi este artigo que disponibilizo na íntegra para você com o sentimento de que possa lhe ser útil

Aqui está a apresentação usada na palestra
Aqui está o artigo em formato para impressão
Aqui está o áudio da palestra

O Homem e os obstáculos para a reprodução



Pensar em obstáculos à reprodução segundo a doutrina espírita é refletir sobre a lei de reprodução, visão da lei divina[i] conforme explicitado na terceira parte de O livro dos espíritos por Allan Kardec[ii]. Trata, acima de tudo, de uma reflexão sobre as perspectivas morais dos espíritos encarnados e desencarnados, seus móveis, intenções, sentimentos, ações e sobre as consequências dos mesmos a curto e longo prazo.
É sempre importante pontuar que, segundo o espiritismo,  somos criaturas imortais criadas por uma potência soberanamente boa e justa que nos destinou à conquista de estágios sublimes de plenitude através de nossos próprios esforços individuais e coletivos de aprimoramento[iii].
Neste sentido, contamos com o infinito de nossas existências, desde o momento de nossa criação em algum ponto obscuro do passado para a construção de entendimento a cerca de nós mesmos, de nossas origens, de nossa destinação e de Deus[iv]. Recebemos absolutamente todos os recursos necessários e suficientes para a realização desta jornada que se dá através de mergulhos na matéria e de retornos à pátria espiritual.
Somos, portanto, criaturas que, na origem, desconheciam a cerca de si próprias e que, no futuro indeterminado, serão plenamente conscientes de si mesmas, felizes e perfeitamente integradas às leis de Deus[v].
No atual estágio de nossas jornadas evolutivas, encontramo-nos ainda muito ligados pela matéria e, portanto, com a visão espiritual um tanto confusa. Ricamente movidos pelas impressões causadas pela matéria, já temos condições de vislumbrar lampejos da vida espiritual e, portanto, nos encontramos em uma região fronteiriça entre a consciência material e a consciência espiritual[vi]. Paulo de Tarso nos fala há dois mil anos sobre este dilema quando anuncia em uma de suas cartas “Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo[vii]”.
Recentemente adquirimos a capacidade de pensar a cerca de nós mesmos e do mundo que nos rodeia através da bênção do pensamento contínuo, embora este ainda esteja em desenvolvimento[viii]. Esta capacidade abriu-nos a possibilidade de refletirmos de forma abstrata e de considerarmos outros pontos de vista além da influência da matéria. O exercício da razão tem nos apresentado uma destinação imaterial perfeitamente integrada à ideia de Deus, mas ainda em fase de desenvolvimento[ix]. Daí nossos dilemas morais, nossos comportamentos ainda muito materializados e a dificuldade de mudarmos nossos perfis de comportamento para os padrões propostos por Jesus há cerca de dois mil anos.
Pensar sobre a lei de reprodução, sobre os obstáculos a ela impostos pelo Homem e sobre as responsabilidades a partir daí geradas é, antes de mais nada, refletir sobre a jornada evolutiva a que estamos submetidos e o ponto desta jornada em que nos encontramos. Lázaro, em sua bela exposição sobre a Lei de Amor, situa-nos em uma escala que segue do instinto ao amor pleno passando pelas sensações e pelos sentimentos[x].
Nesta escala explica-nos que os instintos trouxeram o Homem a um grau de autoconsciência em que foi possível realizar escolhas e buscar a fruição dos gozos materiais além do atendimento aos instintos de sobrevivência. Estas escolhas deram-se pelo desconhecer da perspectiva espiritual, pouco presente nesta fase do despertar espiritual do ser.
À medida em que o espírito é responsabilizado por seus atos e desenvolve a capacidade de raciocinar a cerca das questões percebendo com clareza a relação entre as causas e suas consequências, inclusive de forma transcendente à encarnação em que as causas se deram, passa a aplicar sua razão para moldar os comportamentos, freando a busca por sensações e valorizando a construção de sentimentos.
A ciência nos fala sobre sensações, emoções e sentimentos ajudando-nos a compreender melhor esta instrução espiritual de Lázaro . Antônio Damásio, pesquisador português na área da neurociência, nos fala da evolução humana para conciliar emoção e razão[xi].
Damásio situa a emoção como sendo uma resposta programada no corpo por diversos fatores (instintos, genética, ambiente, cultura, experiências passadas) que é disparada pela mudança do ambiente à nossa volta. Ou seja, à medida em que nossos corpos percebem alterações ambientais através dos sentidos, o cérebro, responsável pelo processamento de todas as mensagens e definição de respostas a elas, atua propondo a emoção. É, portando, uma resposta inconsciente e programada do corpo.
Poderíamos juntar à visão científica para a construção das emoções, as experiências vividas pelo espírito em encarnações anteriores, que trazem, através de ideias inatas[xii], fortes contribuições para as respostas automáticas e inconscientes aos estímulos externos percebidos pelo corpo.
Damásio também nos esclarece que, segundo a ciência, os sentimentos são a evolução das emoções, uma resposta consciente às emoções despertadas pelos estímulos externos e até mesmo pela condição psíquica do sujeito e que, através de conhecimentos adquiridos, leva o sujeito a novos patamares de interação com seu habitat.
Neste sentido, o sentimento é uma elaboração possível apenas entre os seres humanos, únicos seres vivos capazes de coletar dados a cerca de si próprios, metacognição[xiii], desenvolvendo uma capacidade contínua de aprendizado e aplicação do mesmo em intervenções no meio em que existe[xiv].
Pensar em sentimentos como uma resposta racional, provocada pelos estímulos recebidos e que pode até mesmo subverter respostas instintivas e emocionais parece-nos uma convergência possível entre a instrução do espírito Lázaro e a ciência moderna. Relação que aponta para a possibilidade de ampliação dos conhecimentos e constante uso da razão para uma interação mais significativa do Homem com a natureza.
Desenvolver sentimentos é, pois, melhor integrarmo-nos, segundo nossas capacidades, ao meio em que vivemos. O conhecimento torna-se chave fundamental para a nossa autonomia, ressignificando nossas possibilidades, intenções e ações e nos oferecendo maior sentimento de liberdade[xv].
Para o espiritismo, maior liberdade significa menor grau de adesão à matéria densa. Possível através do melhor emprego dos recursos disponibilizados pelo criador para nosso processo de intervenção no universo e que é acompanhado pelo aumento da percepção a cerca de nós mesmos como espíritos imortais e da consequente ampliação de nossas capacidades morais (alinhamento com as leis de Deus)[xvi].
Nossa inteligência e a quantidade de conhecimentos adquiridos até o presente nos coloca em uma posição privilegiada na cadeia hierárquica do planeta Terra. Temos condições de alterar o funcionamento de sistemas naturais a nível global, podendo contribuir com a vida planetária de forma positiva ou negativa, ampliando-a ou restringindo-a conforme nossa vontade.
Quando Kardec, nas perguntas propostas para o estudo,  questiona os espíritos sobre a possibilidade de intervenção nos processos de reprodução propostos pela natureza em todos os níveis, há uma prospecção sobre o grau de responsabilidade moral perante tais atos.
Deus nos deixou atingir a condição intelectual para interferirmos na reprodução das espécies! Portanto, é da vontade de Deus que o façamos. Torna-se, entretanto, necessário refletir sobre os móveis que nos motivam a fazê-lo.
Como parte integrante do universo, detentores da riqueza da sabedoria e do conhecimento a cerca de nós mesmos, de nossas origens e destinação, é necessário considerarmos que já estamos além da dimensão material e que, portanto, são esperado de nós comportamentos mais amplos e condizentes com a dimensão espiritual a que já temos acesso.
Os espíritos nos instruem no sentido de que devemos observar o que nos move em nossas ações, inclusive com relação aos obstáculos que impomos à reprodução. Tanto mais adequada será nossa intervenção quanto mais espiritualizada for a intenção!
Vemos André Luis falar na obra Evolução em dois mundos dos cientistas espirituais e de suas intervenções no planeta para promover a extinção e a criação de espécies facultando, desta forma, a melhor manifestação das inteligências em processo de desenvolvimento de suas capacidades espirituais.
Vemos em nossas sociedades ações predatórias que levam à extinção várias espécies e pesquisas científicas brilhantes que trazem ao planeta novas espécies de plantas e animais mais adaptados às necessidades do homem.
Percebemos, entretanto, um móvel diferenciado entre estes e aqueles. Os espíritos superiores movem-se em seus laboratórios com a intenção de facilitar a jornada dos irmãos menos desenvolvidos que eles enquanto os predadores e cientistas humanos movem-se, predominantemente, estimulados pela supremacia de uns sobre os outros, pelo acúmulo de riquezas e alimentação de seus egos.
A instrução dos espíritos, bem como a evolução do ser comprovadamente percebida, quer pela ciência, quer pela religião, nos apontam para a necessidade de revisão de nossos móveis. Já temos condições de refletir e gerar sentimentos ao invés de respondermos apenas segundo as emoções, que nos atam às dimensões materiais.
Os Espíritos nos apontam que, devido ao conhecimento adquirido, já temos condições de agir de forma diferenciada e que, portanto, a lei natural exigirá mais de nós[xvii]. Cabe a cada um, de forma individual, questionar-se sobre os móveis que o tem levado a colocar obstáculos à reprodução. Estaremos movidos por valores nobres? Ou ainda estaremos nos deixando arrastar unicamente pelas impressões materiais?
Lázaro sugere que a felicidade está diretamente relacionada à superação das emoções em favor dos sentimentos, respostas conscientes às propostas do universo.
Jesus nos fala que a destinação de todos nós é o amor.
A doutrina espírita nos sugere a prática da caridade como único caminho para a integração plena ao mundo espiritual, sendo a benevolência para com o próximo, a indulgência diante das imperfeições e o perdão das ofensas as atitudes mais desejáveis para aquele que está sintonizado com a lei divina.
Cabe a cada um de nós questionarmos nossas motivações e realizarmos os ajustes necessários às nossas jornadas de construção da felicidade plena[xviii]. Utilizemo-nos dos recursos disponíveis, mas busquemos fazê-lo com a sabedoria do ser espiritual que já sabemos ser. Cada um na sua própria medida[xix].


[i] Kardec, Allan, O Livro dos Espíritos, FEB, Parte III, capítulo I
[ii] Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos; FEB; Parte III, capítulo IV
[iii] Kardec, Allan, O Livro dos Espíritos, FEB, Introdução ao estudo da doutrina espírita, item 6
[iv] Kardec, Allan; O Evangelho Segundo o Espiritismo; FEB; Capítulo III
[v] Kardec, Allan; O livro dos Espíritos; FEB; Parte II, capítulo IX
[vi] Kardec, Allan, O livro dos Espíritos; FEB; Parte II, capítulo VI
[vii] Carta de Paulo de Tarso aos romanos. Capítulo 7
[viii] Chico Xavier; Evolução em dois mundos; FEB
[ix] Dénis, Leon; O Grande Enigma; FEB; capítulo I
[x] Kardec, Allan; O Evangelho Segundo o Espiritismo; FEB; Capítulo XI
[xi] "O homem está evoluindo para conciliar a emoção e a razão"; site revista Veja; http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/os-sentimentos-sao-fundamentais-para-a-sociedade-diz-antonio-damasio/ em 16/11/2015
[xii] Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos; FEB; Parte II, capítulo IV
[xiii] Sutherland, 1996
[xiv] Construtivismo: Metacognição e Aprendizagem; https://oaprendizemsaude.wordpress.com/2008/09/23/construtivismo-metacognicao-e-aprendizagem/; O Aprendiz em saúde em 16/11/2015
[xv] “Conhecereis a verdade e ela vos libertará”; João 8:31-32
[xvi] Kardec, Allan; O Evangelho Segundo o Espiritismo; FEB; capítulo XVI
[xvii] Kardec, Allan; O Evangelho Segundo O Espiritismo; FEB, capítulo XVIII
[xviii] Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos; FEB; questão 932
[xix] Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos; FEB; questões 715 - 717

Um comentário:

  1. Muito bom artigo nos convida a reflexão de que não temos fórmulas prontas mas que precisamos sempre estar atentos e nos conhecendo para melhor escolher.obrigado por partilhar conosco seu estudo.

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